Sede Localiza: a luz como quarta dimensão do espaço

Publicado por em 12/11/2018 - 4h43

Texto: Valentina Figuerola, publicado originalmente na revista L + D | Fotos: Jomar Bragança

O edifício sede da Localiza, rede de aluguel de carros, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, tem sua volumetria marcada por três terraços-jardim formados por recuos na fachada do prédio, projetado pela Botti Rubin Arquitetos. Harmonicamente incorporadas à construção, essas áreas perimetrais aterraçadas enriquecem o prisma de vidro com o verde, que também é abundante na praça de convivência arborizada de 4 mil metros quadrados, uma “gentileza urbana” à capital mineira. O open space, outro conceito privilegiado na sede, foi explorado pelo escritório Morence Arquitetura + Design, responsável pela arquitetura de interiores, e iluminado pelo escritório Mingrone Iluminação, por meio de soluções que reforçam a ideia de abertura e integração espaciais.

Antônio Carlos Mingrone, titular da Mingrone Iluminação, conta que todas as fontes de luz internas possuem temperatura de cor única, para promover a unidade arquitetônica do edifício à noite. Quando o sol se põe, as fachadas se revelam de forma elegante e harmônica com o entorno, graças ao predomínio de fontes de luz com 4.000 K, definida para valorizar a cor verde presente na arquitetura de interiores. “Apenas nas áreas de paisagismo é que foi adotada a temperatura de 3.000 K”, diz Mingrone.

No lobby de pé-direito duplo, a ortogonalidade é rompida pela escada helicoidal que conduz ao mezanino e remete à natureza com sua forma orgânica. No forro e na parede revestidos com telhas metálicas verdes, destacam-se três elementos luminosos lineares com 1,53 metro de comprimento cada. Já as circulações e o hall de elevadores do lobby são iluminados por cornijas e sancas interconectáveis.

A linguagem do projeto de iluminação está baseada em soluções lineares como sancas e cornijas luminosas. Mingrone explica que, embora o edifício não tenha buscado a certificação LEED, as marcas de desempenho da ordem de 4,97 W/m 2 , uma baixíssima densidade de potência de iluminação, o qualificariam para tanto. “A proposta toda em LED dimerizável e automatizada com o protocolo DALI não era tão difundida em 2015, quando o projeto foi criado”, esclarece. Nas áreas reservadas ao staff, o projeto seguiu o conceito open space visando promover uma dinâmica de trabalho integrada e flexível que favorecesse o contato e a sinergia entre equipes. As mesas perpendiculares à janela fazem com que a luz natural penetre no ambiente sem gerar sombras. A luz artificial é proveniente de “pequenos tetos luminosos”, maneira como o designer se refere às luminárias de LED com difusores de acrílico com transmitância de 80% que assumem as dimensões das placas do forro modulado. “Nas áreas do staff, quanto mais próximo ao core do edifício e mais distante da janela, maior é o suplemento de iluminação artificial adotado para compensar a escassez de luz natural. Os sensores de luminosidade também entram em ação para prover um nível maior de luz artificial quando as persianas se fecham para proteger os usuários de ofuscamento da radiação solar direta”, explica Mingrone.

Na sala do Conselho, a luz direcionada à mesa de reuniões vem dos pequenos projetores inseridos em um rasgo que assume, internamente, a cor verde, criada por sistema RGB ligado no sistema de automação. A iluminação geral, difusa e indireta, é proveniente da cornija, por meio de fitas de LED fixadas em perfis metálicos, para contribuir com a dissipação do calor. Um sistema de lona tensionada linear de 60 centímetros de largura foi usada na sala de reuniões sobre a mesa.

Na sala da Presidência, a composição cromática neutra e a sala de estar aconchegante proporcionam um clima intimista. A iluminação geral e direcionada ao mobiliário e às mesas de reuniões é oriunda de dois rasgos luminosos, um sistema composto de uma calha metálica em que estão embutidos luminárias e módulos cegos com lente de policarbonato difusa rotossimétrica. Já na sala de apoio da Presidência, as estações de trabalho recebem a luz de luminárias lineares de embutir com difusor de acrílico translúcido, em módulos de 2,85 metros.

Um dos espaços que mais impôs desafios ao projeto de iluminação foi o refeitório de pé-direito duplo, já que os equipamentos de iluminação no teto deveriam ser discretos, interferindo o mínimo possível na arquitetura de interiores. Foram especificados dois rasgos luminosos com canais metálicos pretos embutidos no forro equipados com lâmpadas de LED pontuais e lente de policarbonato de óptica tipo dark.

Outro espaço que estabeleceu um desafio para o projeto de iluminação foi o auditório, sobretudo na obtenção de uma luz uniforme e adequada ao espaço de pé-direito duplo. Mingrone conta que houve um dimensionamento técnico rigoroso, com vários ensaios por computador, para determinar a altura correta das réguas de LED instaladas em perfis metálicos com difusor translúcido.

“No auditório, tudo foi calculado para que a luz se distribuísse de maneira uniforme e também para que o equipamento de iluminação não fosse facilmente visualizado pela plateia. A distribuição dessas luminárias cria um desenho randômico interessante”, esclarece. Suave e difusa, a luz de fundo é proporcionada pelas cornijas com as mesmas luminárias lineares do restante do auditório, mas paralelas à parede, a uma curta distância, banhando a superfície de luz.

NOVA SEDE DA LOCALIZA

Belo Horizonte, Brasil

Projeto de iluminação: Mingrone Iluminação

Antônio Carlos Mingrone (arquiteto titular)

Marina Cesar e Rafael Sanches (colaboradores)

Projeto de arquitetura: Botti Rubin Alberto Botti e Marc Rubin (arquitetos titulares)

Projeto de arquitetura de interiores: Morence Arquitetura + Design João Carlos Moreira Filho (arquiteto titular)

Projeto de paisagismo: Yapó Orsini Luis Carlos Orsini (arquiteto titular)

Fornecedores: Bergheli/Aureon, Embraluz, Castaldi (Eurolighting), Guarilux, Homelight, Lightsource, Lumini, LG Lighting/MHS Iluminação, Omega, Flos (Onlight), Osram, Osvaldo Matos, Philips, PowerLume, Revoluz, Tensoflex